Wednesday, March 18, 2009

Fortalecer o diálogo e a unidade palestina

Car@s amigo@s e colegas: como faço todas as semanas desde 28 de março de 2002, mando abaixo o endereço onde minha coluna de hoje no portal Vermelho pode ser lida. Faço comentários e divulgo conteúdos sobre uma reunião de unidade nacional palestina, para ver se podem ser superados as divisões existentes na liderança desse povo. espero que gostem. Abraços fraternais

http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=52259

Prof. Lejeune Mirhan
Presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo
Sociólogo, Escritor, Arabista e Professor
Membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa
Membro da International Sociological Association
Colunista do Portal Vermelho sobre Oriente Médio
Colunista da Revista "Sociologia" - Editora Escala
Celulares: 11-9887-1963 e 19-8196-3145
Residência: 19-3255-6481
Trabalho: 11-3054-1817

Ego sum pauper. Nihil habeo. Cor dabo".
("Eu sou pobre. Nada tenho. Dou meu coração")


Hoje, milhões de crianças dormirão nas ruas no mundo. Nenhuma delas é cubana


Fortalecer o diálogo e a unidade palestina

por Lejeune Mirhan*

O rompimento da unidade do povo e da liderança palestina vem de 2006. O que me motiva tratar deste tema esta semana é uma reunião ocorrido na semana passada no Egito, com todos os grupos e correntes que compõem a OLP, em busca de uma unidade política de ação. Isso é fundamental para a luta palestina na atualidade.



Mahmoud Abbas e Salam Fayad, do Fatah e da ANP

Pequeno histórico das divergências recentes

Como todos sabem a OLP é o grande e mais antigo “guarda-chuva” de onde são abrigados todos os grupos, partidos, correntes e mesmo personalidades políticas de projeção nacional e internacional, que defendem o Estado Palestino em terras palestinas. Sua fundação vem de 1964. O líder Yasser Arafat assume o seu comando apenas em 1967.

Da estrutura nacional da OLP fazem parte o Partido Fatah, o maior entre os palestinos; a Frente Popular de Libertação da Palestina – FPLP; a Frente Democrática de Libertação da Palestina – FDLP (que em fevereiro comemorou 40 anos de existência) e o Partido do Povo Palestino – PPP (antigo Partido Comunista Palestino), entre outros agrupamentos menores. Os grupos político-religiosos Hamas e Jihad Islâmica não integram a estrutura da OLP.

Desde que venceu as eleições legislativas de janeiro de 2006, o Hamas acabou por isolar-se de outros partidos e forças políticas. Vence em função de dois fatores: o imenso desgaste de décadas de liderança do Fatah, combinado com o sistema eleitoral do tipo distrital (oposto ao nosso proporcional). Num primeiro momento, tentou-se um governo de unidade nacional, onde o Fatah até se dispunha a integrar. Em junho de 2007, porém, houve o rompimento definitivo, com a saída do Fatah do governo.

Que Israel sempre tentou destruir a liderança palestina isso é inegável em toda a sua história. De todas as formas possíveis, desmoralizou Arafat, desacreditou-o, enfraqueceu-o perante seu povo. Fez a mesma coisa com o Hamas. Israel não busca a paz, nem nunca buscou em sua trajetória desde 1948. No caso mais recente, diversas notícias surgiram de que um plano levado a cabo pelo general americano Kieth Dayton, em aliança com o palestino do Fatah Mohamed Dahlan, que ficou conhecido como o Plano Dayton, cujo objetivo principal era enfraquecer o Hamas e seu governo na Palestina.

Quando do conhecimento público dessas articulações, o Hamas imediatamente rompeu as alianças e expulsou os membros da ANP e do Fatah da Faixa de Gaza, sendo que vários deles foram até presos e assim se encontram até hoje. O Fatah revidou. Prendeu muitos militantes do Hamas na Cisjordânia e os mantém presos até hoje. Mas mais do que isso. Destituiu todo o governo do Hamas e seu primeiro Ministro Ismail Hanyieh e nomeou Salam Fayad, do seu grupo como novo primeiro Ministro. Uma guerra entre um povo que parece não ter fim e não serve aos ideais e aos objetivos estratégicos desse povo.

Decisões da 4ª Conferência do Diálogo Palestino

Terminado o massacre dos palestinos da Faixa de Gaza, em que pesem todas as divergências e diferenças entre os grupos e correntes palestinas, é imperioso que se restabeleça a unidade política nacional. Para isso, foi convocada, com a mediação do Egito, uma Conferência para se tentar chegar a um acordo que pacifique as coisas. Tal evento foi presidido por Hosni Mubarak, presidente do Egito.

Publico a seguir as principais decisões tomadas na referida cúpula:

Primeira: apoiar e agradecer a iniciativa do Egito por sua perseverança, patrocínio e convocação para o diálogo nacional palestino;

Segunda: a ratificação pelo diálogo significará que o povo palestino dará uma volta a um passado doloroso, que se caracterizou pela divisão, onde todos sofreram com isso e que será um marco de uma marcha reconciliatória para uma sólida unidade nacional palestina;

Terceira: fica decidido a criação de cinco comissões, a saber: a) Comissão de governo, com o objetivo de formar um governo de reconciliação nacional; b) Comissão de segurança, para garantir os aparatos de segurança com bases profissionais e não partidárias, tendo em vista a Declaração do Cairo e o Documento de Reconciliação Nacional; c) Comissão da OLP, com a finalidade de desenvolver, ativar e reconstruir suas instituições em virtude da declaração do Cairo e do Documento de Reconciliação Nacional; d) Comissão Eleitoral, com o objetivo de realizar eleições gerais presidenciais e parlamentares que ocorra em prazo fixado por lei; e) Comissão de Reconciliação, que consolide a cultura da tolerância, da democracia, dos valores de respeito mútuo e que proíba os enfrentamentos internos entre palestinos;

Quarta: criar o Comitê Supremo da Orientação.

Para todas essas comissões foram imediatamente nomeados membros, que integram as várias correntes e partidos, inclusive o Hamas e Jihad, que não integram a estrutura oficial da OLP. Os trabalhos iniciaram-se no dia 10 de março passado e tem prazo final para ser concluído no dia 31 deste mês.

Quinta: iniciar imediatamente a libertação de todos os presos políticos de todas as correntes sejam os encarcerados em Gaza ou na Cisjordânia, interrompendo todas as perseguições políticas, violações de direitos e garantia das liberdades democráticas. Acordou-se em interromper todas as campanhas midiáticas de todos os grupos que não tratem dos temas de unidade políticas e constantes do presente acordo.

Algumas conclusões

Construir a unidade seja em um sindicato, em um comitê, mesmo em um partido político frentista é tarefa que requer esforço cotidiano, constante, esforço, desprendimento. Um programa comum do tipo frentista, deve se basear em pontos que contemplem a todas as correntes que dele participem. Querer impor determinados pontos de vista de uma determinada corrente a outro agrupamento que não concorde com esse ponto é quebrar a unidade. Devemos trabalhar com os pontos que nos unifiquem.

Claro, não sou ingênuo, ao achar que as coisas serão fáceis. Não serão. Até porque, uma questão de fundo hoje é o grupo Hamas reconhecer o Estado de Israel. Vejam a carta de fundação do grupo o que diz sobre isso:

Trechos da carta de constituição do HAMAS: “Em Nome de Alá, o Misericordioso, o Clemente. Vós sois a melhor comunidade que já surgiu para a humanidade. Vós impondes a conduta correta e proibis a indecência; e vós credes em Alá. E se o Povo da Escritura tivesse acreditado, teria sido melhor para eles. Alguns deles são crentes; mas a maioria deles são praticantes do mal. Eles não irão vos prejudicar salvo uma leve ferida, e se eles lutarem contra vocês eles terão de retroceder e fugir. E depois de tudo eles não serão socorridos. Ignomínia será sua porção onde quer que eles se achem salvos [onde eles se agarrem a] uma corda de Alá e a uma corda do homem. Eles incorreram no ódio do seu Senhor, e miséria será jogada sobre eles. Isso é assim porque eles se acostumaram ao descrédito nas revelações de Alá, e atacaram os Profetas erroneamente. Isso é assim porque eles eram rebeldes e se acostumaram a transgredir.” Surata Al-Imran (III), versos 109-111. Israel irá crescer e permanecer ereto até que o Islã o elimine assim como ele tem eliminado seus predecessores”.

Artigo Oito: “Alá é seu objetivo, o Profeta seu modelo, O Corão sua Constituição, a Jihad seu caminho e a morte pela causa de Alá sua mais sublime crença.”

Pessoalmente, não creio que haja hoje clima algum no mundo para não se reconhecer a existência de Israel, ou mesmo, como já disse há algumas semanas, de criarmos um só estado na Palestina e com esse nome, de caráter laico. Por isso a solução segue sendo a de dois estados nacionais, convivendo lado-a-lado e em paz, se possível. Acho que até o Hamas tem que estar preparado e defender essa proposta. Não existe outra saída. Como dizem os camaradas das organizações palestina de resistência, queremos um Estado Palestino em terras palestinas, pelo menos do tamanho das fronteiras de 1967. É um bom começo.

Em tempo: diga-se de passagem, que, após a reunião de unidade palestina no Egito na semana passada, o premiê palestino reconhecido pela ANP, Salam Fayad, pediu sua renúncia do cargo de primeiro Ministro para facilitar a formação de um novo governo. Espera-se eleições em curto prazo, tanto presidenciais como parlamentares, com novas regras, para recompor o governo e a presidência palestina, que credenciarão os novos negociadores de paz com o novo governo israelense. Mas, ao que tudo indica, Bibi formará o governo e não veremos paz em um horizonte próximo.




*Lejeune Mirhan, Presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo, Escritor, Arabista e Professor Membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa, Membro da International Sociological



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